Tive a honra de ser convidado pelo amigo Flávio Campello para desenvolver a sinopse do GRES. ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ ( RJ ) ao seu lado;
Não sei ainda o que mais me encantava, desenvolver uma sinopse para uma escola do porte e peso da Santa Cruz ou desenvolver uma sinóse com a história de Grande Otelo.
Foi uma honra, um desafio e mais do que isto a satisfação dos elogios recebidos.
Justificativa do enredo
Homenagear uma grande personalidade que em 2015 completará 100 anos do seu nascimento: Grande Otelo. A história em verso e prosa do pequeno menino que se tornou um Grande Othelo. Toda a sua essência, sua exuberância de talento, serão lembrados em nosso desfile.
Um pequeno menino, um pequeno homem, que se tornou grande de alma e reconhecimento. Sejam nos picadeiros, nos palcos da vida, nas pequenas telas da televisão, nas imensas tela da sétima arte, na música, na poesia... um artista completo, que o G.R.E.S. ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ, vem homenagear em seu carnaval, honrosamente, trazendo Grande Othelo para os braços do povo!
Sinopse
Uberlândia, 1915... Nascia uma pequena estrela negra!
Liberdade ainda que tardia...
Corre “si mininu” de pés no chão, rola a bola, infância feliz...
Liberdade de criança, em “terras” de gente grande...
Liberdade de criança, ao grande futuro homem, sem nome, sem data, sem eira e nem beira...
Fardado as mazelas, driblou o destino. Filho de empregada, na Fazenda da Prata, pai respeitado, orgulho e histórias sem fim, família de poucas letras, mas de grandes ensinamentos.
Sua mãe de leite foi branca, contrariando todos os livros de história e todos os preconceitos de uma época. Negro, ainda bebê, inverteu o papel, fez da grande dama da fazenda sua “ama de leite”. Encantador desde a infância, o destino, ao sucesso estava traçado.
Na sétima arte o primeiro grande encanto, sem cores, sem recursos, o talento espelhado desabrocharia. O Garoto, de Charles Chaplin foi o filme que despertou a vontade de brilhar como uma estrela...
A estrela negra e solitária começaria a atentar para as artes...
Poeira no ar, esperança no olhar, passa a caravana à encantar o menino...
O velho circo chega à pequena cidade do interior de Minas Gerais. A velha lona que tanto brilho já ostentou, remendada, para os olhos da criança não importa, o que se via era o Palácio da alegria, da ternura, das emoções e da inocência. O espetáculo vai começar...
Mágicos, trapezistas, bailarinas e palhaços... Era o Grande Circo a encantar...
Animais adestrados, truques e ilusões, a mística imaginação infantil entra em cena. Um mundo colorido e sutil, onde o tempo parecia não passar, e mais nada além da arte parecia importar, eis que surge: o palhaço!!!
Risos e gargalhadas, aplausos... E o menino enfeitiçado, não tinha ideia que naquele momento seria apresentado a ele, um mundo maior do que sua jovem e inocente mente poderia imaginar...
O tempo passou, na mente recordações, o tempo passou gerou emoções, o pequeno e ingênuo garoto, acolheu em seu coração os aplausos recebidos pelo velho palhaço do humilde picadeiro, era a hora de entrar em cena, fazer a sua história acontecer, ser o seu próprio palhaço e gargalhar das coisas da vida...
Nos picadeiros da vida a grande revelação. No colorido picadeiro de um velho circo, a primeira apresentação. Como a mulher do palhaço, risos e aplausos...
O som das palmas o acompanharia por toda a vida e o grande menino seria visto, por aqueles que o adotariam e o levaria rumo, a uma vida de arte, drama, tragédia e comédias.
O pequeno garoto sem nome, já tinha sua identidade, era brasileiro, mineiro, negro, e Grande como o seu nome, apenas Otelo, traduziria o tamanho de sua importância em um futuro próximo...
Otelo como só, poderia encantar um “Grande” Brasil e uma grande gente em terras de ninguém... Corre “si mininu” de pés no chão, rolou a bola, ganhou seu novo
nome, subiu nos palcos...
Aplausos à infância feliz...
Bate forte o tambor, o axé do negro ecoa pelos ares... Louvando os seus Orixás, Sebastião pede que os Santos abram seus caminhos e iluminem sua trajetória assim por diante. Que Zambi, Olorum e Oxalá cuidem do pequeno menino que se tornaria um grande homem em alma e bondade. Na Umbanda, Grande Otelo encontra a paz que precisa e a força para continuar a trilhar seu destino.
O som dos atabaques em louvação aos Orixás, cede a vez para as notas musicais...
É um ritmo envolvente que vem tomando conta...
É um ritmo forte que mostra a ginga do negro na face do artista...
É Grande... É boêmio... É Otelo...
Vivendo sua boemia, cercado de seus orixás se faz magia...
É forte é guerreiro, e se a vida imita a arte é brasileiro...
Seu tamanho, não importa. Seu caminho foi trilhado, nos jogos de búzios da velha baiana, seu destino foi revelado.
Não importa a cada ser, se a verdade amanhecer, do dia tira-se a alegria, e da noite respira-se a fantasia.
De bar em bar, a canção não pode parar... De bar a bar, uma estrela a brilhar.
Foi na Praça Onze de samba-canção. Foi na Praça Onze, de samba “sambão”, com Herivelto Martins, a composição da ilusão.
Aplausos ao sambista, aplausos ao artista, ser negro com orgulho ser “grande” em vida... Axé Otelo...
O mundo mudava, e um modesto Brasil começava a se modificar. Indústrias, oportunidades e a jovem República davam seus primeiros passos... A arte se faz aplaudir entre plumas e paetês, vedetes e brilhantina... Era o Teatro de Revista a encantar.
Otelo, que ainda criança despertou seu “palhaço adormecido”, viu seu primeiro grande sonho fechar as portas, com o fim da Companhia Negra de Revistas.
Iniciou seu trabalho por lá ainda com seus seis anos de idade com a peça “Nhá Moça” em campinas no Interior de São Paulo. Mais tarde no Rio de Janeiro no Teatro República, entraria em cena com “Café Torrado” de Ruben Gill. O fim da companhia não significava o fim do seu sonho. Persistiu...
Voltou ao Rio de Janeiro em 1935, com a peça “Goal” do empresário Jardel Jércoles, e pela primeira vez foi apresentado ao mundo com o nome que o consagraria até os aplausos finais de uma vida, que peculiarmente poderia ser descrita como um verdadeiro espetáculo. Nascia para os olhos do mundo e orgulho do Brasil, surgindo assim, Grande Otelo.
Ganhou o mundo e apresentou sua pele negra aos países latinos... Cruzou os mares e apresentou seu sorriso negro à Europa, sendo aplaudido em Portugal e na Espanha.
Ao voltar para o Brasil, seu talento brilhou mais uma vez, aplaudido e acolhido pelos principais teatros do Rio de Janeiro e São Paulo... Foi atração em cassinos de toda a nação, sendo o espetáculo principal do mundialmente famoso: Cassino da Urca. Até a Pequena Notável se encantou!
Deixou sua marca até o encerramento das atividades do mesmo, emoldurou em saudades um tempo que não volta mais, marcando de vez para o mundo a brasilidade de uma gente de um País Tropical e debochado com a vida.
Luz, câmera, ação...
Entra em cena o artista imortal. Faz da arte sua vida, e da vida sua profissão. Nas grandes telas sem cores, a cor ganha vida nos gestos... Gestos que mortalizariam o negro, que fez de Chaplin sua grande inspiração...
Estreou em “Noites Cariocas” abrindo alas para inúmeros trabalhos de sucesso e consagrações.
Nos estúdios da “Atlântida” aplausos imortais, risos e choros se confundiam em um banho de talento e interpretação. Em “Romeu e Julieta” seu pedestal se ergueria e abriria as cortinas a um mundo maior do que a própria tela do cinema.
De comédias como “Carnaval de Fogo”, à personagens dramáticos, como no filme “O Assalto ao Trem Pagador.”
Foi “Macunaíma”, viveu um herói sem lei... Um herói brasileiro de fato, fazendo de uma pequena aparição, uma dantesca e imortal cena.
Inúmeros foram seus personagens, inúmeros eram os seus trabalhos, tão grande era que não cabia apenas nas telas do cinema, era preciso pedir licença e adentrar à casa de seu povo. No ar a televisão...
Foi para uma tela menor, porém uma tela de maior alcance, mais popular e que o levaria até dentro das casas das pessoas que o aplaudiam, entrou no ar e fez o povo sorrir, ao vivo ou gravado, claquete em mãos, ação...
Emocionou em novelas com seus personagens imortais.
Pediu licença e entrou nos lares brasileiros através da televisão, fez novelas, fez séries e minisséries de sucesso, fez o povo sorrir novamente...
“De Gabriela Cravo e Canela” a ”Bandeira 2”, de “Espelho Mágico” a “Sinhá Moça”...
Sentou-se na carteira da escola dos mestres do sorriso, e na “Escolinha do Professor Raimundo”, imortalizando Seu Eustáquio, e adentrou a um Olimpo de humoristas que jamais serão esquecidos...
Inspirado por uma vida... Inspirado por sua história... Inspirado por sua gente...
Fez versos imortais, por palavras que não conhecia.
Fechar os olhos e buscar a inspiração nas estrelas, escrever de “Brasil- Minas Gerais” a “Grito Solitário” poemas que refletem seu íntimo... Refletem sentimentos às vezes escondidos...
Da “Formiga que se perdeu” a “Viva a Vida” o “encontro com o verbo que se perdeu... “Verbo ser, terceira pessoa”...
Das frágeis pequenas mãos do grande poeta, surgiam obras, escritas de uma vida, assinadas por um gênio.
Em seu único livro de poesias, “Bom Dia Manhã” o último sonho realizado, o artistas estava pronto para deixar nosso plano e se encantar em um plano superior, rumo às estrelas, que brilham eternamente nos céus do Brasil... Na grande constelação negra de um país de alma mulata!
Do menino inspirado pelo circo, ao menino inspirado por Charles Chaplin...
Sem diferença, em talentos absorveu a arte em sua essência, fez do palco, sua casa, e da carreira, sua vida...
Do menino sem nome desacreditado, ao grande mestre pelo Brasil aclamado.
Foi negro, foi pobre, adentrou as mais altas camadas da sociedade pela porta da frente, e ainda hoje seu respeito se impõe, em um mundo de artes e sorrisos, onde o aplauso é a maior conquista, de quem tem fé naquilo que acredita.
Seguiu assim, o menino sem nome, guiado por seus orixás...
Seguiu o menino sem nome em uma terra de ninguém, em uma Pátria onde o tempo esqueceu que o ponteiro do relógio não pararia a sua história...
Seguiu o menino sem nome em um Brasil sem limites que ainda hoje te aplaude...
É Grande Otelo, pode aplaudir... Entre inúmeros prêmios e consagrações, o pequeno negro se agigantava, diziam que ele não gostava de homenagens mas as recebia com carinho e sorriso.
Troféus que só afirmavam a seu talento... No Brasil e no Mundo, Grande Otelo se torna imortal... Dos palcos para a imortalidade, através de seus poemas “Bom Dia, Manhã”, ganharia leitores que passariam a admirar cada vez mais esse Pequeno Grande Artista...
Mas foi no Rio de Janeiro sua maior emoção.
Na “Grande Constelação das Estrelas Negras”, seu brilho se agigantou, ao lado da “Cinderela Negra do Samba” reinou na manhã de carnaval, cantou seus Yaos, quanto amor pelo público, quantos gestos de carinho e aplausos.
No berço do samba... Foi bamba, compositor, e do berço do samba mais uma consagração, Otelo, se torna a “Prata da Noite” e seria levado a mais uma glória...
Em São Paulo, o sambódromo ganha o nome de Pólo Cultural Grande Otelo, escrevendo em forma de assinatura a avenida mais paulistana do samba.
Hoje a grande Estrela Negra brilha sobre nós, e a chuva de prata se faz em lágrimas ao ser aplaudido novamente no templo maior que o consagrou e o eternizou...
Em Verde e Branco desperta Grande Otelo, coroado pela Zona Oeste se faz sorrir novamente, o Rio de Janeiro é novamente seu, as noites são prateadas pela lua, na proteção do santo guerreiro que te recebe e te conduz aos pés do Cristo Redentor, disposto a te dar novamente aquele abraço que nunca deixou de ser caloroso e hoje tem um gostinho de saudade...
Dos filhos deste solo, de nossa mãe gentil, aplausos mais uma vez nesta grande consagração ao imortal e ao centenário GRANDE OTELO!
Flávio Campello e Felipe Diniz Marinho.